Gilberto Zancopé, criador e sócio do Fundo Order, explica as premissas de atuação do Fundo Order e sua filosofia de investimentos. Para Gilberto a função do Fundo Order é atuar além do investimento de capital financeiro. “O capital intelectual, a experiência em gestão e as competências para usar as ferramentas de marketing são fundamentais para gerir um negócio e acelerar o crescimento e o valor da operação e da marca”, diz ele.
Você teve uma carreira de sucesso como empreendedor. Porque resolveu criar o Order?
Eu saí do mercado financeiro ainda jovem. Tinha pouco mais de 30 anos e queria atuar no segmento industrial. Era uma ambição profissional, mas, também, uma convicção de que a produção de bens é uma alternativa mais completa de geração de riqueza para a sociedade. Os bens constroem uma cauda longa positiva de benefícios para a sociedade em relação a emprego e renda. E está é uma decisão pessoal: atuar de maneira a contribuir com a sociedade. De minha experiência como industrial também percebi que muitas empresas sucumbem por falta de capital e gestão. O Order surgiu como forma de atuar nesse binômio.
Então o Order aporta, além de capital, gestão?
Sim. A vida do empreendedor é muito difícil. Na primeira fase da empresa há uma aprendizagem muito sacrificante. A empresa nasce e vai buscando crescer em patamares. E para isso precisa de capital para acelerar sua evolução. A cada patamar que ela sobe, o empreendedor avança em conhecimento. Ele parte de uma ideia, constrói um protótipo e depois um produto que pressupõe uma linha de produção. E permeando tudo isso é preciso entender qual será o modelo de negócio que vai gerar resultados. Cada fase exige um tipo de conhecimento e gera uma experiência. A liderança precisa evoluir com a empresa. No entanto, em muitos casos, o fato do líder ficar na operação, faz com que existam brechas perigosas na gestão. É aí que o Fundo atua. Entra com a experiência de gestão. Aplicamos o que aprendemos na construção de nossas próprias empresas.
Em quais empresas?
Eu atuei diretamente na Montana, uma empresa de máquinas agrícolas. Foi a primeira empresa que dirigi. Depois criei a Freso, de rotomoldagem, atuando no segmento de brinquedos. Vendi a Montana e reposicionei a Freso. Depois comprei a WAP, então líder no segmento de lavadoras de alta pressão. Com a WAP fizemos a transição de indústria tradicional para uma empresa digital. Ampliamos o portifólio de produtos, entrando nos segmentos de ferramentas, áudio, eletroeletrônicos e ainda estamos expandindo. A soma dessas experiências consolidou uma filosofia do Fundo Order.
E o que você percebeu na gestão dessas empresas?
Que além de capital é preciso compreender a empresa como um processo que tem que estar harmonizado. Isso quer dizer estar em ordem. Há uma tendência em pensar ordem como poder, repressão. Mas a ordem é o contrário do caos. Uma empresa caótica tem desarmonia no seu centro de decisões. Surgem muitas objeções que impedem o trabalho e o crescimento. Você passa a administrar conflitos onde deveria administrar pessoas e resultados. Olha para dentro e não para o mercado e suas potencialidades. Esquece a sociedade.
Quando uma empresa quebra nunca é a falta de conhecimento das disciplinas (marketing, finanças etc.) essenciais para o negócio. Elas quebram porque estão em desordem por falta de liderança, capital, alinhamento de valores. São questões identificáveis mas que essas empresas não conseguem solucionar.
A ordem é um processo perene?
A ordem é uma meta, um foco. A desordem é inerente ao crescimento humano e empresarial. Quando surge uma nova tecnologia ela cria uma desordem. Muda os processos, exige novos conhecimentos e posturas. Ela gera aprendizado. Em um ambiente que se busca a ordem, a desordem é positiva. Ela é administrável. Estimula a ordem em um novo patamar. O processo criativo é, essencialmente, de desordem. A construção do produto criativo é exatamente colocar a desordem em um patamar de ordem. A desordem ajuda quando regressa à estrutura da ordem. Sem regressar, a empresa se perde na desordem e o caminho é o desastre empresarial. Mais ou menos como o homem que se afasta da realidade, mergulhando em um universo fantasioso.
Então, estar em ordem significa estar em ordem com a sociedade também?
Necessariamente. A empresa tem que estar em ordem com o planeta e a sociedade. Isso significa respeito e incentivo à cidadania e ao meio ambiente. A empresa deve carregar e defender os valores essenciais. Se a empresa está focada em lucros apenas não respeita os consumidores. Aceita reduzir, por exemplo, a segurança de seus produtos, desrespeitando o cidadão. Considera poluir algo aceitável e não educa seus colaboradores. Ela deseduca a sociedade. No curto prazo a empresa pode colher algum resultado. Mas não será sustentável. Nos recusamos a fazer isso. Queremos gerar impacto positivo.
E quais outros níveis em que a gestão deve ser tratada pelos princípios da ordem?
O segundo nível é estar em ordem com o mercado e os consumidores. O mercado de consumo apresenta constantemente necessidades que produtos podem atender. Compreender estas necessidades implica em ter produtos e serviços direcionados a elas. Isso leva a respeitar o consumidor, atender às expectativas dos canais de comercialização e ter produtos adequados aos consumidores.
A empresa também deve estar em ordem internamente. Isso significa criar uma gestão colaborativa entre as áreas para fazer com que elas atuem harmoniosamente. A harmonia é facilitada com a redução de níveis hierárquicos, o estímulo a pensar e agir de maneira criativa e reduzir os feudos. As ideias podem vir de várias áreas e para vários setores. As áreas internas não competem entre si.
E, finalmente, consideramos que deve haver uma ordem entre os valores individuais e os da corporação. Temos que criam um ambiente em que cada um sinta que tem valor e importância. Que sua colaboração é fundamental e que ele tem o respeito da empresa. Remuneração justa, reconhecimento e oportunidades para todos, são fundamentais para que o profissional e empresa encontrem a harmonia.
Tudo isso deve ficar claro e ser disseminado pela empresa.
Qual a relação entre esta filosofia de investimentos e os temas que são muito abordados hoje como o impacto positivo e as políticas de ESG?
Em primeiro lugar é preciso compreender que a sociedade como um todo exige que as empresas tenham determinadas condutas. A sociedade, especialmente os jovens, incorporaram valores relativos a preservação do planeta, contra a discriminação, qualidade de vida para todos, condutas éticas que, de fato, passaram a nortear comportamentos. A questão fundamental é evitar que isso se transforme em uma peça de marketing ou apenas em campanhas publicitárias. A maneira de evitar isso é construir um aprofundamento ainda maior desses conceitos que tenha transversalidade no negócio e na vida. Por isso preferimos incorporar os temas de impacto social e de ESG em nossa filosofia de investimentos, da ordem. Estar em ordem com o planeta, com a sociedade, com as relações internas, tudo isso implica em gerir operações tendo em vista o bem estar, o que significa colocar uma operação a serviço da vida de maneira ampla e específica: a vida do planeta e a vida de cada um.
O Fundo Order também fala em atuar com marcas que possuam narrativas claras e impacto na sociedade. Isso tem vínculo com esta visão?
De maneira direta. Uma marca conta uma história para o consumidor. Expões valores que devem ser os valores de seu target. A marca representa uma aspiração que deve ser respeitada e tratada com respeito. Construir uma marca é construir uma ponte com os consumidores e dar a quem trabalha na empresa um motivo de orgulho e representação. Dizer no seu grupo social que você atua em uma empresa em ordem com o planeta e que defende os princípios da diversidade, geração de oportunidades para todos, cria uma alternativa de ser valorizado por seu grupo. Isso é fundamental. Por isso atuamos também para a construção de marcas fortes e envolvidas com os consumidores.
Queremos marcas que sejam amadas pelos consumidores. Isso só é possível com a empresa funcionando em harmonia. A ordem significa gerar harmonia, o que abre espaço para a construção e sustentação dessas marcas.
Então, o fundo entra para ajudar na gestão, inclusive na criação de processos e relações que estejam em ordem com o planeta, a sociedade, o mercado e a operação cotidiana?
Sim. Aportamos o capital, mas fornecemos o ferramental necessário para gestão. O Fundo Order atua, com maior ou menor intensidade, em diversas investidas. Se não tivermos a oportunidade de colocar a mão no leme com o empreendedor, preferimos não investir. Somos um fundo que trabalha e que gosta da operação, estilo mão na massa.
RUA ANTONIO SINGER, 200.
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS. PARANÁ. BRASIL.
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