Diz um ditado que “dinheiro não é problema: é solução.” Esse dito, embora popular, induz a um erro e cria um risco. Estabelece que o fundamental é ter acesso a capital, deixando de lado a pergunta básica: onde e como alocar? Ter dinheiro é bom, mas saber o que fazer com ele é um problema a ser resolvido. Essa é uma tarefa qualitativa e definidora.
Alocar é uma competência e, ao mesmo tempo, uma exigência, que precede o acesso ao capital. Competências são desenvolvidas. Exigências não. Estas dependem de comprometimento e disciplina.
O empreendedor que tem compromisso com a alocação de capital e competência para fazê-lo, pode ter retornos extraordinários – acima de 25% ao ano. Esse resultado propicia acesso facilitado a mais capital quando for preciso. O mercado acredita em resultados.
Existem empreendedores, no entanto, que possuem principalmente a habilidade de criar acesso ao capital. O “easy money” é uma tentação que vem de habilidades relacionais e de network. Nesses casos, a experiência mostra que a capacidade de destruição de valor é muito superior à possibilidade de construir riquezas.
Durante os anos exuberantes para as captações de 2020 e 2021, o que deu errado não foram apenas os valuations elevados por causa dos juros baixos ou negativos do período. O que deu muito errado foi o acesso fácil ao capital, a sensação que haveria capital abundante e infinito para torrar em qualquer ideia bem vendida. Os excessos correram juntos com festas animadas e decisões equivocadas como foram expostas no caso do WeWork, que chegou a ser avaliada em US$ 47 bi e implodiu.
O excesso de capital disponível criou uma percepção de que o os aportes não teriam fim. Até que ele foram minguando. Sobrou a ressaca de uma festa exagerada. Dor de cabeça, arrependimento, remorso e um gosto de derrota no estômago. As migalhas passaram a ser disputadas com uma premissa: um empreendimento tem que dar lucro.
A escassez educa. Nela, a criatividade passa a ser um diferencial efetivo e, através dela, a inovação acontece. O compromisso com os resultados consistentes migra das palavras para a ação. O caminho da escassez é duro, difícil. Mas é a base para o aprendizado. Aqui são moldados os grandes empreendedores que conseguem construir muito com pouco.
Quanto mais fácil o dinheiro, mais fácil errar. Ou, para encerrar com outro ditado, “dinheiro na mão é vendaval.”